Crítica: “É Assim Que Acaba” é bom, mas podia ser melhor

Já faz alguns bons anos que Hollywood vive uma crise criativa aguda. A recente greve dos roteiristas e atores é apenas um dos sintomas desse problema. Focados cada vez mais em números de bilheteria e altos lucros, os estúdios têm dado menos espaço para histórias originais, e optado por levar às telonas tramas que já são sucesso em outras mídias. Por exemplo: quadrinhos, séries, games e livros. Sob a direção de Justin Baldoni, que também integra o elenco da produção, “É Assim Que Acaba” é o mais recente fruto desse direcionamento cinematográfico.

Baseado na obra homônima da autora norte-americana Colleen Hoover, o longa-metragem é estrelado pela atriz Blake Lively. Com roteiro assinado por Christy Hall, acompanhamos a história de Lily Bloom (Lively). Após superar uma infância traumática no subúrbio do Maine, ela se muda para Boston a fim de abrir seu próprio negócio dos sonhos: uma floricultura. Na nova cidade, Lily conhece o bonito (e rico) neurocirurgião Ryle Kincaid (Justin Baldoni). Logo, os dois se envolvem num relacionamento sério. Porém, quando Ryle passa a exibir um comportamento agressivo, o que parecia um romance de conto de fadas se transforma num pesadelo real. A situação fica ainda pior quando Atlas (Brandon Sklenar), um antigo amor de Lily, cruza o caminho dos dois.

A imagem mostra uma cena do filme "É Assim Que Acaba" destacando a interação entre os atores Justin Baldoni e Blake Lively.
Em Boston, Lily conhece Ryle, com quem desenvolve um romance. (Imagem: divulgação)

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Assunto sério, tom morno

Fênomeno de vendas ao redor do mundo, “É Assim Que Acaba” chega aos cinemas cercado de altas expectativas e com uma legião de fãs. Só aqui no Brasil, o livro lançado em 2016 já vendeu mais de 1 milhão de cópias. Porém, aqueles que não tiveram um contato prévio com a obra talvez não se sintam atraídos para lê-la após a sessão; uma vez que o filme possui um tom morno do começo ao fim. Do ponto de vista técnico, o longa é bem executado e conduzido. Logo nos primeiros 15 minutos, o espectador é introduzido à personagem principal, assim como ao contexto ao qual ela está inserida. Depois, a trama se desenvolve intercalando cenas no presente com flashbacks, conferindo maior profundidade ao drama de Lily.

No entanto, a película peca em abordar a temática de violência doméstica de maneira superficial e quase velada. No primeiro diálogo entre Lily e Ryle, a jovem afirma ser uma “narradora pouco confiável“. Isso parece servir como uma desculpa para a decisão de não mostrar cenas de violência de maneira mais explícita, já que acompanhamos o desenrolar dos fatos a partir de seu ponto de vista. Talvez tal decisão tenha sido um meio de deixar a classificação indicativa do filme “baixa”, recomendado para maiores de 14 anos aqui no Brasil. Para fins de comparação, de acordo com a editora responsável pela publicação do livro no país, o mesmo é indicado para maiores de 18 anos. Seja qual tenha sido o motivo, isso confere um ar ambíguo para as ações de Ryle (ainda que totalmente reprováveis).

A imagem destaca o ator  Brandon Sklenar no filme "É Assim Que Acaba".
Interpretado por Brandon Sklenar, o personagem Atlas surge como um salvador na vida de Lily. (Imagem: divulgação)

Bom, mas podia ser melhor

Outro ponto discutível no filme é o tom de “salvador do dia” atribuído ao personagem Atlas. Interesse romântico de Lily quando adolescente, ele retorna em sua fase adulta com objetivo de ajudá-la em seu drama pessoal. E só isso. Não há outra motivação para suas ações que justifiquem sua presença na história. Mesmo com um passado minimamente elaborado, ele parece bidimensional ao lado da complexidade de Lily e Ryle (que por sua vez, também possuem alguns aspectos um tanto quanto clichês). Há também outros personagens que poderiam ter sido melhor adaptados, como a amiga de Lily na floricultura e seu marido, mas ambos não impactam tanto na trama como um todo.

Com pouco mais de duas horas de duração, um ritmo narrativo agradável, uma estética visual estilo “Taylor Swift”, uma atuação competente mas sem tanto brilho de Blake Lively, e um final que deixa a desejar, “É Assim Que Acabaé bom, mas podia ser melhor. Ao estrear na mesma semana em que a Lei Maria da Penha completa 18 anos, o longa contribui de certo modo com a discussão a respeito desse importante tema. Talvez sob uma direção feminina, este poderia ser um dos filmes de maior destaque do ano no cinema. Porém, conduzido por um homem, perde parte de seu potencial dramático e sensibilidade. Se nem sempre as verdades nuas e cruas são bonitas, como o próprio longa afirma, por que blindar o espectador delas?

NOTA: 3/5


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